O câncer renal, apesar de corresponder somente a 2% dos tumores malignos em adultos, é o tumor urológico mais letal com 35% dos pacientes indo a óbito em 5 anos e tem apresentado uma incidência crescente nas últimas décadas. Esta variação está intimamente ligada ao aumento do diagnóstico incidental de pequenos tumores, mas outros fatores estão sem dúvida implicados. Dentre os fatores de risco associados destacam-se a obesidade e o tabagismo, presentes em 30 e 20% dos casos respectivamente, além de hipertensão arterial, insuficiência renal crônica dialítica e síndromes hereditárias. Dentro do arsenal terapêutico para o câncer renal, o tratamento cirúrgico destaca-se como opção curativa em tumores localizados e mesmo localmente avançados, e também promove melhora de sobrevida e qualidade de vida em pacientes com doença disseminada. No âmbito da cirurgia os objetivos são em primeiro lugar a cura do câncer, e em segundo lugar a preservação do rim e utilização de cirurgias minimamente invasivas. Face ao estabelecimento da nefrectomia radical como terapêutica de primeira linha durante a segunda metade do século XX, o entusiasmo pelas técnicas cirúrgicas com preservação renal apenas recentemente tem vindo a recrudescer. Na origem desta tendência estão a melhoria e a massificação dos exames de diagnóstico por imagem (ultrassonografia, tomografia computadorizada, ressonância magnética), o aperfeiçoamento das técnicas cirúrgicas minimizando a lesão renal, o desenvolvimento dos cuidados peri-operatórios e ainda a realização de estudos a longo prazo de sobrevida livre de doença. Estudos têm sido publicados na última década que comparam a nefrectomia radical e nefrectomia parcial em relação à taxa de cura do câncer, sobrevida e os efeitos adversos consequentes a não preservação renal. Observou-se que para muitos tumores a retirada total do rim aumentou a incidência de doenças como insuficiência renal crônica, e de doenças cardiovasculares como infartos cardíacos e cerebrais que aumenta a incidência de óbitos à longo prazo. As indicações absolutas de nefrectomia parcial são pacientes com tumores nos dois rins ou em rim único, ou pacientes com síndromes familiares com predisposição a desenvolverem tumores renais múltiplos. Baseado na tendência atual de preservar a função renal, cada vez mais se defende a cirurgia com preservação do rim em pacientes que já possuem insuficiência renal crônica ou que podem desenvolvê-la, incluindo pacientes hipertensos e diabéticos de longa data, além de pacientes com nódulos de características benignas. Além disso, para pacientes com nódulos renais de até sete centímetros, a nefrectomia parcial tem mostrado excelentes resultados do ponto de vista de cura do câncer, com menor incidência de insuficiência renal, doenças cardiovasculares, e óbitos ao longo dos anos. Classicamente a cirurgia com preservação renal tem sido feita por uma incisão no flanco chamada lombotomia. Trata-se de um grande corte na região do flanco, em que para mobilização do rim o cirurgião urologista incisa uma grande quantidade de fibras musculares, e por muitas vezes necessita ressecar parte da costela. O pós-operatório deste procedimento é acompanhado de uso intenso de analgésicos para controle da dor, e de resultado estético ruim, associado a grande cicatriz e flacidez muscular com abaulamento local. A nefrectomia parcial por acesso laparoscópico (em que são utilizadas pequenas incisões e auxílio de câmera e pinças específicas) é uma realidade na urologia moderna. É viável para boa parte das indicações e possui excepcionais resultados estéticos com rápido retorno às atividades diárias, além de apresentar resultados semelhantes aos da cirurgia aberta quanto à cura do câncer e preservação da função renal. (Figura 2) Para a realização deste procedimento necessita-se de exames de imagem de excelência com bom detalhamento da anatomia renal; aparelhagem cirúrgica laparoscópica adequada; e equipe de urologistas com experiência em cirurgia renal laparoscópica preservadora do rim. O Hospital São Marcos, referência no Norte e Nordeste do Brasil no tratamento do câncer urológico, coloca à disposição da população todo este material técnico e humano, representando um grande avanço no tratamento do tumor renal e na prevenção de insuficiência renal e suas consequências.
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