Uma clínica londrina se transformará na primeira do Reino Unido, e possivelmente do mundo, a desenvolver testes em embriões com o objetivo de descartar os que tiverem um gene hereditário relacionado ao estrabismo. É a primeira vez que um centro de saúde britânico recebe autorização para gerar crianças livres de um transtorno genético que pode causar um defeito estético. Tanto o executivo que doou seu esperma para a fecundação in vitro quanto seu pai têm o mesmo gene defeituoso. O doador se submetera antes a seis operações para corrigir o estrabismo, com resultados limitados. Para os críticos, esse é mais um passo para a criação de crianças perfeitas em laboratório. A licença foi concedida à clínica familiar Bridge Centre, em Londres, pela Autoridade de Fertilização e a Embriologia Humana (HFEA). Segundo o professor Gedis Grudzinskas, funcionário da clínica, a concessão representa um passo importante. É a primeira vez que o governo autoriza a modificação por uma doença que não causa perigo à vida. "Será cada vez mais freqüente o uso dos testes de embriões para prevenir condições estéticas graves", declarou Grudzinskas ao jornal The Daily Telegraph. Na entrevista, o professor disse que não hesitaria em recorrer a esse tipo de teste se um dos fatores em questão fosse a cor do cabelo, desde que recebesse autorização oficial. Para ele, a cor do cabelo "pode dar lugar a comportamentos agressivos, que podem, por sua vez, levar a pessoa ao suicídio". "Se um dos pais sofresse de asma e fosse possível detectar o fator genético desencadeante, também faria. Tudo depende do grau da angústia familiar", acrescentou Grudzinskas. Segundo o cientista, um bebê que nasce com a condição conhecida como fibrose congênita dos músculos extraoculares tem que se submeter a várias cirurgias potencialmente perigosas desde muito cedo. Fontes do organismo que concederam a licença explicaram à imprensa que a autorização responde à demanda de casais que recorrem às clínicas. Até o ano passado, esse tipo de teste de embriões se limitava a casos potencialmente fatais, como a fibrose quística. O doutor David King, diretor da ONG Human Genetics Alert, declarou à imprensa que "esse é um exemplo prático" do caminho perigoso que o meio científico está seguindo. King explicou que, no início, era feitos testes para descartar embriões com defeitos genéticos que pudessem levar à morte. Depois, eram realizados para evitar imperfeições que pudessem levar a doenças em idade mais avançada (como o câncer). "Finalmente, decidimos descartar pessoas que vão viver tantos anos como nós, mas que têm alguma imperfeição estética", criticou. Outra rede britânica de clínicas, a Fertility Care, de Nottingham, anunciou sua intenção de solicitar o mesmo tipo de autorização para o tratamento de um casal. Os futuros pais querem ter uma criança livre de uma síndrome relacionada ao crescimento anormal dos ossos e dos tecidos faciais. Em alguns casos, a doença pode levar à surdez.