Hospital São Marcos: O que é a Cirurgia ortognática?

Ana Luísa: É um procedimento cirúrgico que envolve os ossos maxilares visando corrigir deformidades no esqueleto da face. Esse método traz um ganho estético importante, mas o objetivo é funcional, corrigindo a mordida, a oclusão dentária, a mastigação, a fonação e a respiração.

HSM: Quais são os benefícios desse processo?

Ana Luísa: O principal benefício é funcional, com a melhora da função mastigatória, da fala e da deglutição (que podem estar prejudicadas), e a correção da oclusão. Também temos dado muita evidência para a função respiratória, pois quando o paciente apresenta um padrão de crescimento facial vertical, ele pode não fechar os lábios passivamente e se tornar um respirador bucal. O paciente também pode apresentar ossos maxilares retraídos, deixando a faringe muito estreita e provocando uma síndrome que chamamos de apneia obstrutiva do sono. O tratamento ortognático traz benefícios para todos esses campos.

HSM: Quem é o profissional que normalmente realiza a cirurgia ortognática?

Ana Luísa: É o cirurgião bucomaxilofacial.

HSM: Para quem está indicada a cirurgia?

Ana Luísa: Geralmente para pacientes jovens, que já completaram o crescimento ósseo. Existem alguns casos em que realizamos uma abordagem cirúrgica precoce, na adolescência, devido a transtornos psicológicos que a deformidade pode causar em alguns pacientes que sofrem alguma forma de bullying. É uma cirurgia eletiva, portanto, podemos escolher o melhor tempo e saúde sistêmica para realizá-la. No geral, as mulheres costumam fazê-las dos 18 anos até a menopausa, antes de doenças comuns como osteoporose.

HSM: Como é realizado o procedimento cirúrgico?

Ana Luísa: A cirurgia é feita com anestesia geral, com o processo podendo durar em torno de 3 a 4 horas. O paciente geralmente é internado pela manhã, opera no mesmo dia e tem alta em 24 a 48 h.

HSM: E o pós-operatório?

Ana Luísa: Hoje em dia, nós começamos a fisioterapia no mesmo dia da abordagem, o que tem somado bastante para o rápido retorno deste paciente às atividades normais e para a regressão do edema. Em média, dentro de 3 semanas o edema mais significativo já apresenta regressão, e em 2 meses já está liberado para voltar ao ortodontista e a mastigar sólidos. Durante esses 2 meses, a alimentação é gradativa, começando somente com os líquidos e progressivamente nós vamos aumentando a consistência dos alimentos, até a recuperação completa.

HSM: Como é realizada a sequência do tratamento?

Ana Luísa: Normalmente o cirurgião e o ortodontista avaliam o paciente, solicitam a documentação clínica e radiográfica inicial e se encontram para discutir e definir o plano de tratamento. O paciente então inicia o tratamento ortodôntico da fase pré-operatória. Quando os dentes estão na posição considerada ideal por ambos os profissionais, então se realizam umas pequenas modificações no aparelho, nova documentação, agora na fase pré-operatória imediata, e o paciente é operado pelo cirurgião bucomaxilofacial. Normalmente, após 2 meses, o paciente retorna para a sequência do tratamento ortodôntico, agora na fase pós-operatória, de finalização ortodôntica.

HSM: Existe alguma dica para quem vai realizar esse tratamento?

Ana Luísa: Uma dica ao paciente é que ele pesquise bem o que o incomoda na face e tenha cautela em optar por procedimentos milagrosos paliativos… eles podem até melhorar sutilmente a parte estética, mas a função não será corrigida. A cirurgia ortognática está em constante evolução, em técnicas, motores, materiais de fixação, planejamento virtual e qualidade de vida no pós-operatório; não é mais o "bicho-papão" de uns tempos atrás. Aos colegas dentistas, que procurem conhecer mais a cirurgia e suas indicações, visando abordar seus pacientes como um todo, além da visão antiga de focar apenas em dentes e oclusão.